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Não é sua audição, mas seu cérebro

O natal está chegando, trazendo com ele as festas familiares e você repetindo duas vezes a mesma coisa para aquele tio idoso que nunca entende o que você diz. Naturalmente atribuímos esta repetição à perda auditiva com relação à idade. Porém, estudos recentes afirmam que o problema pode não ter relação com a audição de seu tio, mas algo pode estar acontecendo em seu cérebro que dificulta o entendimento de conversas em ambientes ruidosos, mesmo quando sua audição seria considerada normal em uma avaliação clínica.

Em um estudo publicado pelo "Jornal de Neurofisiologia" os pesquisadores Samira Anderson, Jonathan Z. Simon e Alessandro Presacco descobriram que adultos com idade entre 61 e 73 anos, com a audição normal, obtiveram uma pontuação significativamente menor que adultos na faixa etária entre 18 e 30 anos, também com a audição normal.

O estudo é parte de uma pesquisa sobre o chamado "efeito coquetel", ou a capacidade do cérebro de focalizar e processar a fala em um ambiente ruidoso. Esta pesquisa reúne os campos da audição e da ciência da fala, neurociência e ciência cognitiva, engenharia elétrica, biologia e ciência de sistemas.

Os participantes que colaboraram com o estudo foram submetidos a dois tipos diferentes de exames para medir a atividade elétrica em seus cérebros enquanto ouviam pessoas falarem. Os pesquisadores foram capazes de medir o aumento da atividade cerebral dos voluntários quando perguntados o que alguém estava dizendo, tanto em um ambiente calmo, quanto em um ambiente com ruído demasiado.

Os pesquisadores estudaram duas áreas do cérebro:

  • O mesencéfalo – responsável por realizar o processamento básico de todos os sons e que a maioria dos animais vertebrados possuí;
  • O córtex – particularmente grande em humanos e parte do qual é especializada no processamento da fala.

No grupo de voluntários mais jovens, o mesencéfalo gerou um sinal que correspondia à sua tarefa em cada caso - parecido com a fala no ambiente silencioso e discurso claramente discernível, contra um fundo barulhento no ambiente de ruído.

Já no grupo de voluntários mais idosos, a qualidade da resposta ao sinal de fala, foi degradada mesmo quando em ambiente silencioso, tendo uma resposta muito pior em um ambiente com ruído abundante.


"Para os ouvintes mais velhos, mesmo quando não há nenhum ruído, o cérebro já está tendo problemas para processar o discurso"

Jonathan Z. Simon

Mas, porque o cérebro dos voluntários mais idosos demoram mais para processar a fala, do que o cérebro dos voluntários mais jovens?


"Parte dos problemas de compreensão experimentados por adultos mais velhos, tanto em condições de silêncio quanto de ruído, poderia ter relação com o desequilíbrio entre processos neuronais excitatórios e inibitórios no cérebro relacionados à idade."

"Esse desequilíbrio pode prejudicar a capacidade do cérebro de processar corretamente os estímulos auditivos e pode ser a principal causa da resposta cortical anormalmente alta observada em nosso estudo"

Alessandro Presacco

"Muitas vezes ouvimos uma pessoa mais velha dizer: "Eu posso ouvir você, eu simplesmente não consigo entender você"

"Esta pesquisa nos dá uma nova visão de por que isso ocorre."

Samira Anderson

Esta erosão da função cerebral parece ser uma parte natural do processo de envelhecimento. Atualmente os pesquisadores analizam se técnicas de treinamento cerebral podem ajudar os idosos a melhorar sua compreensão da fala.

Além disso, algumas cortesias também podem ajudar, como certificar-se de que, em uma conversa com idosos, eles estejam com a atenção voltadas para você, pois olhar para quem está falando ajuda no processo de compreensão da fala.

Fonte: AudiologyOnline

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