O que você faria se uma música não saísse da sua cabeça e você a ouvisse mesmo que não estivesse tocando realmente?
E se você ficar ouvindo esta música desde a hora que acorda até a hora que vai dormir, ininterruptamente, sendo que dormir se trona seu único momento de silêncio e paz?
E se, para piorar, for uma música que você não gosta?
Foi o que aconteceu com Cath Gamester (em 2012), uma aposentada britânica de 84 anos que sofria da "síndrome do ouvido musical" ou "alucinações musicais" (no Brasil), um problema raro que anualmente afeta apenas um em cada 10 mil sexagenários.
Estes idosos relatam que o transtorno evolui durante todo o dia, tendo início ao acordarem e cessando apenas pouco antes de dormir. Eles tendem a ouvir cerca de uma lista contendo de seis a dez músicas diferentes que se repetem constantemente em sua cabeça. O pior é que as músicas são sempre as mesmas.
No caso de Gamester, a lista inclui Parabéns a Você, o hino nacional britânico, e hinos religiosos, sempre na voz de um tenor masculino - que ao menos é do seu agrado.
Dentre as seis músicas que ela ouve repetidamente, a pior é, com certeza, Parabéns a Você.
"A música Parabéns a Você - a cada dois minutos estou desejando feliz aniversário para alguém - odeio essa!"
Cath Gamester
A aposentada explica que tudo começou com a morte de sua irmã, dois anos atrás, o que à levou a tomar antidepressivos. Mas mesmo depois de interromper o tratamento, as músicas não cessaram.
"Fui dormir, e quando acordei, por volta das 8h da manhã, logo ouvi a música, e era o hino nacional. Olhei por todos os lugares, abri a porta de casa. Achei que eram os vizinhos, mas me dei conta de que estava dentro da minha cabeça"
Cath Gamester
Um ponto em comum
O psiquiatra Nick Warner, que é especialista em idosos, explica que a síndrome não tem relação alguma com os ouvidos, e que é interessante perceber que na maioria dos casos as músicas são muito parecidas, senão as mesmas.
"Percebi que muitas pessoas com a doença ouviam hinos religiosos e canções de Natal. Particularmente o hino abide with me ("permaneça ao meu lado", em tradução livre), ouvido por 50% dos pacientes."
"É um hino muito reconfortante. Há de se especular se há algo em específico gerando essa necessidade de segurança quando se está envelhecendo. Uma mensagem de que você não está sozinho e de que está seguro"
Nick Warner
Especialistas também levam em consideração o fato de que em grande parte dos casos os pacientes são idosos e vivem sozinhos.
Outros pesquisadores se perguntam se o problema pode estar relacionado com a perda de audição e uma tentativa do cérebro de preencher o vazio com músicas muito conhecidas do paciente.
Pesquisa
Uma reportagem do diário americano The New York Times diz que, apesar de serem conhecidas há mais de um século, as alucinações musicais ainda não são muito estudadas.
Em 2005, o mesmo Nick Warner publicou um estudo no Jornal Britânico de Psicopatologia, que consistia em analisar 30 casos que foram acompanhados por 15 anos.
Ele concluiu que, em dois terços dos casos, a alucinação musical era a única perturbação mental dos pacientes e que um terço era total ou parcialmente surdo. As mulheres tendem a sofrer mais do que os homens, e a média de idade dos doentes é de 78 anos.
Os pacientes acompanhados ouviam uma grande variedade de músicas que escutaram repetidamente durante toda a vida ou com algum significado emocional. E em dois terços dos casos eram músicas religiosas.
A pesquisa também revelou que as alucinações são distintas daquelas sentidas por portadores de esquizofrenia - estes escutam apenas vozes, e não a mesma sequência de músicas.
Aos que sofrem com as alucinações, Cath deixa uma mensagem de esperança:
"Gostaria de dizer a todos que têm o mesmo problema que eu, para que sejam felizes, aproveitem a vida mesmo assim. Aprendi a valorizar o fato de que ao menos não tenho uma doença grave"
Cath Gamester
Fonte: BBC
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